Já se passava das 19h e Justin tomava banho no banheiro coletivo da casa. Não tinha nada pra fazer e a fome já tomava meu estomago que roncava. Desci as escadas praticamente correndo, estava com tal fome inesplicavel. Em cima do fogão estava a janta que fora feita a mais ou menos uma hora e meia atrás, teria que esquentar e eu não teria paciencia para isso quando minha barriga gritava para que saciasse-a. Abri a geladeira e graças ao bom Deus, ainda havia 2 pedaços da torta de frango que minha mãe comprara. Sem pressa peguei-as e mesmo frias a comi. Sentada na bancada da cozinha quieta quando mamãe adentrou a mesma toda despreocupada. Já havia me esquecido que ela teria que me dar explicações de quem era esse carinha cujo o nome era Lois, que ela tanto saia esses ultimos dias. Me virei e ela colocava água no copo.
– O que está havendo entre você e esse tal de Lois? – Perguntei tentando parecer mais natural possivel. A pergunta pareceu espantar minha mãe, pois ela praticamente cuspiu a água que bebia em cima da pia. Arqueei as sombracelhas meia que desafiadora, ela simplesmente se fez de desentendida, o que me deixou puta da vida.
– Ein? – Foi a unica coisa que ela conseguiu dizer.
– Vou ser bem direta e não quero que você minta pra mim, certo? – Perguntei bem convicta às minhas palavras. Ela apenas acentiu nervosa, e parecia que os papéis haviam se trocado ali, eu era a mãe e ela a filha. – Você está saindo com esse cara? – Ela suspirou e se sentou ao meu lado.
– Parece que Pattie não é a única que precisa conversar com seu filho... – Arqueei mais uma vez a sombracelha esperando uma outra noticia, mas o que saiu de sua boca foi apenas a confirmação que eu já esperava; – Sim Melanie, estou saindo com o Lois a alguns dias. – Eu não sabia o que falar, por mais que eu já desconfiasse de algo as palavras que saira da sua própria boca me machucou fazendo-me sentir sozinha.
– E o papai? – Perguntei já com a voz embargada, meus olhos já continham algumas lágrimas que cairiam a qualquer momento. Eu realmente me senti sozinha, parecia que agora era minha mãe e seu novo namorado e eu sozinha, sentia uma traição da parte da minha mãe com meu pai mesmo ele estando morto.
– Mel. – Suspirou ela. – Eu sei que deve ser dificil de entender, mas eu preciso seguir minha vida também, sinto muita a falta do seu pai, mas como ele não está mais aqui conosco preciso tentar ser feliz com outra pessoa... – Ela disse por fim passando suas mãos em meus cabelos, enquanto a unica coisa que eu fazia era soltar as lagrimas e prender meus soluços. Fiquei quieta apenas pensando, lembrei das coisas que Justin havia me dito que ela (minha mãe) também tinha direito de voltar a ser feliz novamente mesmo que não fosse com meu pai. Funguei e levantei a cabeça limpando as secreções do meu nariz.
– Por que você não me contou? Por que esperou que eu tirasse minhas próprias conclusões? Por que me escondeu isso? – Meu rosto deveria estar todo vermelho e minha pouca maquiagem borrada.
– Eu ia te contar Melanie, acontece que eu estava esperando o momento certo pra isso. – Ela me apertou mais em seus braços, dando um beijo ao topo da minha cabeça. – Por favor Melanie, tente compreender. Eu preciso de mais uma chance pra ser feliz e não ficar o resto da minha vida lamentando a morte de seu pai. Eu nunca vou esquece-lo porque eu o amo e sempre vou amo-lo, mas não posso deixar de viver por ele, meu amor. – Minha mãe ergueu minha cabeça e beijo minha testa e depois sorriu, apenas acenti e sai de seus braços.
Minha fome já tinha passado, mal consegui comer metade do pedaço da torta. Talvez soluços engolidos sejam um alimento e tanto. Limpava as lágrimas enquanto subia os degraus da escada vagarosamente ao pensar sobre o assunto conversado agora pouco com minha mãe. Ela realmente sofreu com a perda do meu pai, e eu estaria sendo egoísta o bastante dizendo que não queria que ela saíssem com outro cara enquanto eu poderia ser feliz com alguém - e esse alguém no momento eu gostaria que fosse Justin. - Suspirei por fim girando a maçaneta da porta que pertencia ao meu quarto. Entrei já fechando a porta com a intenção de me jogar na cama e viajar em devaneios, mas quando me virei encontrei Justin arrumando suas malas enquanto lágrimas escorriam sobre seu rosto que continha uma expressão tristonha.
– O que houve? Porque está arrumando suas malas? – Perguntei automaticamente.
– Parece que vou ter que voltar antes do esperado. – Disse depois de fechar a mala.
– O que aconteceu? Porque tem que ir já? – Apenas fui até ele e segurei seu rosto, olhando atentamente para seus olhos. Meus olhos já estavam transbordando.
– Vou ter que voltar para o Canadá. – Sua voz estava fraca e baixa mantendo um timbre doloroso. – Meu pai pagou todas as penções não dadas, de uma vez e agora quer que eu fique um tempo com ele. – Ele fungou mais umas duas vezes e secou suas lágrimas. – Embarcaremos amanhã às 14h. – Eu não estava acreditando, olhava para ele feito uma louca, lágrimas pareciam ser incessantes.
– Não! – Disse soltando o choro de uma vez. Realmente não queria que ele se fosse, pelo menos não tão já.
Ele apenas me abraçou forte e pude sentir uma gota cair sobre meu ombros. Pude ouvir ele soluçar e fungar ao mesmo tempo. Nunca pensei que iria chorar tanto por ele estar indo embora, eu esperava sorrir enquanto acenava pra ele no aeroporto e não fazer tal drama um dia antes da sua partida. Fazia tempos que não nos viamos e mal daria pra matar a saudade dele e de tia Pattie. Não sabia o que fazer. Não sabia se chorava ou se tentava consola-lo, mas acho que quem precisa de um consolo era eu.
[...]
Acordei com o sol que atravessava minhas palpebras, nem me lembro de como consegui dormir, apenas sei que chorei muito ontem, não só eu como Justin também. Abri os olhos e a claridade fez os mesmo arderem. Meus cabelos grudados em meu rosto por conta das malditas lágrimas. Logo a luz não incomodara mais meus olhos e pude ver suas malas no chão, apalpei o outro lado da cama e não senti corpo nenhum ali. Ouvi a porta da suite ser aberta e Justin sair de lá com uma escova na mão, ele me deu um sorriso fraco guardando o objeto em sua mochila jogada sobre o puff. Ele já estava arrumado e lindo como todos os dias, seus cabelos arrepiados, sua camisa branca com o corte em V deixando amostra sua pintinha abaixo do pescoço, que eu particularmente achava um charme, uma bermuda jeans azul clara e suas vans vermelhas. Sorri. Sorri pela sua beleza e por tudo que passamos, por outro lado foi um sorriso triste por saber que ele estava voltando para o Canadá e Deus sabe quando veria ele e minha tia novamente.
Passei a mão sobre o rosto e me levantei indo ao banheiro. Tomei um banho rapido, escovei os dentes e fui me trocar. Justin já não estava mais em meu quarto o que me fez dar um leve suspiro. Meu rosto não estava os dos melhores e por conta disso demorei mais uns minutos fazendo uma maquiagem leve. Prendi meus cabelos em um coque solto e desci pra tomar café.
Já estavam todos em pé tomando café. Passei por eles sem ao menos dizer bom dia, apenas sorri forçadamente, me sentei ao lado de Pattie e comi quieta.
Terminei de comer e fui até a sala para ver o que passava de bom na tv. Me sentei no sofá e procurei uma programação legal, mas não achei nada que me agradasse. Justin entrou na sala e se sentou ao meu lado e simplesmente me abraçou de lado e depositou um beijo em minha bochecha, cochichando em seguida um "eu te amo" em meu ouvido. Apenas fechei os olhos com isso e aquela sensação ruim de querer chorar tomou conta de mim mais uma vez. Abri os olhos e sorri fraco para ele já com os olhos marejados.
– Eu te amo também.
– Não chore princesa. – Ele acariciou minha bochecha e me olhou amavelmente. – Eu vou mas volto o mais breve possível, mas pra isso preciso que você não chore e me espere feliz, ok? – Ele deu um sorriso reconfortante e me abraçou, assenti em resposta. – Vamos sorria! Não quero ver minha princesinha triste. – Ele começou a brincar comigo, o que me fez esquecer de tudo e viver o momento.
Ficamos um bom tempo brincando e fazendo palhaçadas um pro outro. Mas logo já era hora do almoço. Almoçamos falantes e felizes, rindo muito com tudo. Terminamos de almoçar e ficamos conversando na mesa por um tempo.
Logo tia Pattie se levantou da mesa dizendo a Justin que descesse as malas para a sala, e foi ai que eu me deprimi novamente. A hora estava chegando. Ajudei a colocar as malas no terreo da casa e já era 13h, teríamos que levá-los ao aeroporto, pois se exige que chegue com pelo menos meia hora de antecedência ao mesmo. Colocamos as malas no carro e tomamos rumo a rodiviaria de aviões. Lá eles compraram a passagens e ficamos aguardando a chamada para o embarque que eles iriam.
– Vôo 157 para Ontário-CA. Por favor passageiros se direcionem para ala de embarque numero 4. – Disse a mulherzinha.
O que isso significa? A hora do temido adeus. Meu coração apertou e o ar faltou por um instante, meus olhos já com razas lágrimas me fez ficar paralisada. Pattie e Justin se levantaram, minha tia veio se despedir de mim - tá ai uma coisa que eu odeio, despedidas. -
– Tchau querida, fiquei muito feliz em ver você novamente. Você está linda. Continue sendo essa menina maravilhosa que você é e sempre foi. – Pattie disse me abraçando, retribui o abraço apertado junto a lágrimas. – Não chore! Nos veremos muito ainda. – Sorriu. – Estou esperando sua vizita na minha casa. – Disse sorrindo e por fim se soltando de mim indo se despedir da minha mãe, que fazia o mesmo com Justin.
Assim que ele largou minha mãe, veio até mim e me abraçou muito forte. Eu chorava feito uma crincinha de 5 anos, minha fala tinha sumido e a única coisa que eu fazia era chorar.
– Eu te amo Melanie! – Ela depositou um beijo na minha testa e me abraçou novamente.
– Eu te amo Justin. Não deixe de manter contado, por favor!
– Tudo bem. – Sorriu.
– Ultima chamada para o vôo 157 Ontário-CA. Por favor direcionem-se a ala de embarque numero 4. O vôo sairá em 15 minutos. – A mulherzinha anunciou pela última vez.
– Então é isso. – Disse tia Pattie. – Obrigada por nos hospedarem em sua casa e desculpe qualquer coisa. – Nos deu um ultimo abraço e levantou suas malas do chão.
– Tchau e obrigada por tudo. – Justin fez a mesma coisa e ambos foram para o portão de embarque.
Eu apenas estava sem reação. Queria chorar mais nem pra isso eu estava conseguindo no momento, estava totalmente chateada. Minha mãe teve que me guiar até o carro, porque eu estava tão triste que passei a ficar sem saber onde ir.
– Quer passar no Mc Donalds pra comer alguma coisa? – Perguntou minha mãe enquanto eu entrava no carro.
– Pode ser. – Disse baixo. Talvez seria legal sair e comer alguma coisa, pra quem sabe me distrair um pouco.
Então fomos ao Mc Donalds.
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Postado Por: Aline.